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Perspectiva de mercado e desafios de produção na bovinocultura de corte

Publicado em: 23 de abril de 2024
Categorias: Blog

 “Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia” - William Deming

 

A análise sobre a perspectiva de mercado e os desafios de produção na pecuária em 2024 revela uma intrigante dinâmica entre passado, presente e futuro. O ciclo pecuário, regido pela lei de oferta e demanda, traceja períodos de baixa e alta, refletindo não apenas oscilações econômicas, mas também oportunidades estratégicas. 

Para entender onde estamos e projetar o futuro da cadeia produtiva é preciso retornar ao passado, observar os acontecimentos e relembrar o ciclo.

O ano de 2023 emerge como um marco na trajetória, testemunhando um "fundo do poço" caracterizado por recordes no abate de fêmeas (Figura 1) e uma notável queda nos preços em todas as categorias. Esse desafiante momento, no entanto, apresenta uma dualidade intrigante: uma fase desfavorável para a comercialização de animais, mas também uma janela de oportunidade para expandir estoques a preços reduzidos, antecipando uma valorização futura. 

FIGURA 1: Variação de preço do boi gordo deflacionado e percentual de participação de fêmeas no abate total nos últimos 20 anos (Brasil). 

 

Atualmente, pode-se observar um momento de recuperação da pior fase dos preços (Figura 2), bem como, um movimento de lateralidade no mercado, característico de uma possível inversão de ciclo. Essa perspectiva tem por base que a fêmea abatida hoje, não entra em reprodução e consequentemente reduz a oferta de terneiros/bois no futuro. Com isso, a escassez de terneiros, aliada a uma maior retenção de fêmeas, marca a fase de alta do ciclo e elevação de preços em todas as categorias.

O gráfico da variação semanal de preços disponibilizado pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva – NESPro da UFRGS (Figura 2) mostra que a menor valorização do quilo do gado gordo foi nos meses de agosto e setembro de 2023.  

FIGURA 2: Variação em R$/Kg de peso vivo do gado gordo.

 

Avaliando os resultados econômicos da pecuária em 2023, observamos que o custo de produção elevado e a desvalorização do setor impactaram significativamente as margens de lucro ao longo do ano. Prevê-se que 2024 marque o início de um período de recuperação, com uma esperada estabilização das condições. 

No entanto, a reversão completa desse ciclo adverso só é projetada para ocorrer em 2025, quando se espera um período de maior valorização. Neste momento, é crucial focar na reposição do rebanho e na produção de terneiros, visando a preparação para a fase de alta que se avizinha.

Diante das atuais tendências e diretrizes para tomadas de decisões no setor pecuário, podemos observar a redução dos preços das commodities essenciais na nutrição animal, desenhando um cenário propício para transformar grãos em carne. A perspectiva de um estoque acessível, reflexo de 2023 e potencialmente no primeiro semestre de 2024, combinada aos atuais preços dos insumos, especialmente milho e soja, fortalece a viabilidade da intensificação na engorda e terminação.

Entretanto, o horizonte da pecuária não se desenha apenas pela lente econômica. Desafios complexos, como hábitos de consumo, poder de compra da população, condições climáticas, preços de grãos e exportações, são protagonistas na trama do futuro pecuário. O pecuarista enfrenta a responsabilidade de não depender exclusivamente da variação de preços por quilo para determinar o sucesso ou fracasso de sua atividade.

Um dos principais desafios de produção é justamente o fato de que, na maioria das vezes, a propriedade rural não é vista e gerenciada como uma empresa. Os indicadores zootécnicos e econômicos do sistema devem ser a base para a tomada de decisão, trazendo assim, uma maior segurança e perenidade ao negócio.

A eficácia do gerenciamento e a maximização da produtividade por hectare são cruciais em qualquer empreendimento agropecuário, incluindo a bovinocultura. Investir em tecnologia interna, desde o manejo do rebanho até a nutrição, é fundamental. 

Essa abordagem possibilita melhorias significativas na eficiência, qualidade e sustentabilidade da produção de carne bovina, tornando-a mais competitiva e alinhada com as demandas do mercado.

Segundo William Deming, estatístico americano, “Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia”, ou seja, o sucesso do produtor rural na pecuária está diretamente ligado ao controle dos acontecimentos da porteira para dentro. 

 

Neliton Flores Kasper

Médico Veterinário

Supervisor de Varejo


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